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ACT in Portuguese (ACT em Português)

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A literatura referente à Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) existe essencialmente em inglês o que pode ser um obstaculo para muitos leitores lusófonos. A ideia de criar a página em português permitirá, espero, tornar acessivel às pessoas interessadas esta abordagem terapeutica que muito enriquece a minha prática clínica.

Decidi não traduzir sistemáticamente as páginas em inglês do sítio ACBS, mas sim resumir o que eu comprendi das leituras, do material disponivel nas páginas noutras línguas e nos fóruns de discussão ACT.

Este texto não é uma produção pessoal mas sim uma tentativa de restituir o que recebi da parte dos membros da comunidade ACT que partilham o saber com uma grande generosidade. Claro que me incumbe a responsabilidade dos erros eventuais e desde já agradeço que me os comuniquem.

Ao tornarem-se membros da ACBS, vocês têm a possibilidade de submeter directamente as vossas perguntas a cada uma das páginas e alimentar assim uma discussão que enriquecerá progressivamente este material. Os membros têm também a possibilidade de fazer o download gratuito de um vasto material teórico e prático. Para todas as perguntas podem-me enviar uma mensagem. Nesse caso peço que incluam o vosso contacto porque o sistema não o vai incluir automaticamente.

Como é muito fastidioso mencionar a cada passo as fontes a que tive recurso para elaborar este resumo, só o faço quando traduzo literalmente uma dada passagem.

O meu objectivo é de completar e melhorar este material, e agradeço desde já a todos aqueles que me ajudarão a fazê-lo com as suas reacções e participação.

1. O que é a ACT?

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT em inglês) é uma terapia cognitiva e comportamental que pertence à chamada terceira geração das teorias do comportamento. Ela tem como meta principal reduzir a esquiva experiencial que é vista como uma das maiores fontes do sofrimento humano. A ACT promove a aceitação de estados do organismo, de pensamentos e emoções considerados como indesejáveis como realmente são, e não como parecem ser. Quando a pessoa se liberta da luta contra os seus próprios pensamentos, avaliações e sentimentos, ela pode começar a agir de maneira productiva sobre o seu meio ambiente.

A ACT apoia-se na Teoria do Marco Relacional (RFT em inglês), ou seja na teoria funcional da linguagem elaborada na sequência dos trabalhos de S.F. Skinner para desenvolver uma abordagem ciêntífica do comportamento humano. Como todas as terapias comportamentais, a ACT é uma intervenção baseada na investigação básica e aplicada na clínica.

A ACT afirma que a base dos problemas psicológicos encontra-se na linguagem. As nossas competências verbais restringem a nossa capacidade de viver no momento presente e fazem-nos evitar tanto situações exteriores consideradas perigosas como os estados internos desagradáveis. Esse evitamento da experiência tem um papel importante no desenvolvimento e na permanência das perturbações da ansiedade, das perturbações depressivas e das perturbações da personalidade.

O terapeuta utilisa metáforas, paradoxos e exercícios experienciais para que os clientes aprendam a vivenciar os pensamentos, recordações e sensações, quer préviamente temidos quer quaisquer outros que surjam durante as sessões. Desta maneira as pessoas aprendem a contextualizar esses acontecimentos privados, clarificam o que é realmente importante para as suas vidas, o que no fundo tem mais valor para elas, e tomam o compromisso de fazer as mudanças necessárias para agir. O trabalho sobre os valores constitui de facto um dos aspectos importantes da terapia.

A intervenção terapeutica não tem como objectivo mudar o conteúdo dos acontecimentos privados mas sim mudar o contexto, nomeadamente o contexto de literalidade. Para Hayes, Pankey & Gregg (2002) as perturbações são decorrentes da socialisação en função de quatro contextos socio-verbais patogénicos, que resumem a variedade de armadilhas contidas na forma como usamos a linguagem ou como pensamos:

  • O contexto de literalidade refere-se à tendência que têm certas ideias e pensamentos em tornarem-se uma fonte de regulação emocional e comportamental. Os conceitos também podem determinar as nossas reacções quando os consideramos como se fossem factos, esquecendo que eles são produtos verbais. Se o controle verbal for excessivo, as pessoas começam a viver em função de crenças, de vieses ou de conceitos.

  • O contexto de avaliação refere-se à tendência automatica em categorizar acontecimentos em termos de bom ou de mau. Quando estas avaliações não se baseiam em vivências directas e contextualisadas, elas podem influenciar as nossas reacções de maneira rigida ou injusta: sobretudo quando elas são baseadas em regras sociais.

  • O contexto de controle diz respeito à tendência que temos em eliminar os sentimentos, pensamentos e sensações avaliados como negativos. Tentamos rejeitar aspectos da experiência, em vez de enfrentar as condições no contexto da vida que estão na sua origem.

  • O contexto de dar razões é relativo à nossa tentativa de encontrar razões lógicas para os nossos problemas, de maneira a que estes se tornem socialmente aceitáveis ou pelo menos comprensíveis pelo meio. A aceitação cultural desta estratégia leva a uma maior compaixão, uma maior tolerância,para com as pessoas que exprimem bem o seu sofrimento, mas impede que estas se confrontem com o que poderiam mudar para resolver os problemas.

A ACT distingue três niveis da vivência de si:

  • O “Eu conceitual” que designa o que pensamos e percebemos sobre nós próprios, o eu conceptualizado que nós construimos constantemente afim de dar um sentido à nossa vida. A pessoa, ao identificar-se demasiadamente com o seu eu conceitual, adopta atitudes de defesa e torna-se rígida, numa tentativa de manter a coerência da história pessoal que constroi. Este processo orienta a interpretação das experiencias e faz com que as escolhas pessoais estejam ao serviço do auto-conceito. A ACT (Vuille, 2007) pretende pôr em causa esta construção, desmontando o processo, não recorrendo ao ataque mas sim enfraquecendo o poder dos processos verbais e do contexto de literalidade, que contribuem para a tomada de decisão.

  • O “Eu Vivencial” é a faculdade de estabelecer uma relação de equivalência entre um conjunto de sensações corporais, de predisposiçôes comportamentais ou de pensamentos, e o nome de uma emoção. Par estabelecer ou consolidar esta capacidade, o que as outras orientações psicoterapeuticas chamam de capacidade de estar “proximo das emoções” ou ter “acesso às emoções”, é preciso que as respostas do meio precoce tenham sido correctas e apropriadas ao que a criança sente. A criança não se terá desenvolvido suficientemente no caso de traumatismos ou de carências precoces e particularmente nos casos de abuso onde a resposta do meio foi a mentira (“tu gostas disto”). As pessoas que não sabem utilizar categorias emocionais de maneira adequada têm muita dificuldade em fazer escolhas que lhes sejam uteis. A ACT esforça-se em estabelecer um clima terapeutico que favoreça o desenvolvimento dessa capacidade, promovendo assim a abertura para a experiência e a capacidade de crescimento.

  • O “eu observador” (Vandenberg & de Sousa, 2006) corresponde à perspectiva transcendente, em que a pessoa tem consciência que não é nem os conceitos que tem sobre si, nem os conteúdos que vivencia, que todos estes são eventos com os quais lida, mas que são distindos dela mesma. O contacto com este nível de ser permite que a pessoa se reconhaça como expectadora dos seus problemas e conflito e, assim, consegue comprendê-los melhor porque não se confunde com eles. Esta tomada de distância em relação aos pensamentos e sentimentos aumenta a tolerãncia aos mesmos, bem como permite ver suas implicações mais amplas com clareza. Os exercícios com metáforas permitem trabalhar na terapia estes contactos com a subjectividade humana.

Conteúdos de fontes diversas podem consultar-se em:
https://contextualscience.org/act
https://contextualscience.org/publications

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