O Hexa-quê?
O Hexa-quê?Tradução e adaptação do artigo de Luoma, J., & LeJeune, J. (2006). Suffering, a Dog, and Woody Allen : An Introduction to Acceptance and Commitment Therapy. Oregon Psychological Association Newsletter, May/June.
O Hexa-quê ?
O modelo do hexagono, chamado na brincadeira “hexaflex”, ilustra os seis processos utilizados pela ACT para atingir o objectivo de uma maior flexibilidade psicológica.
A aceitação é um processo pelo qual a ACT atinge o objectivo de aumentar a flexibilidade psicológica, o processo de entrar em contacto com o momento presente plenamente, como um ser humano consciente.
A desfusão cognitiva consiste em ajudar a pessoa a afastar-se dos seus pensamentos e ser capaz de responder aos pensamentos baseando-se na sua utilidade e não como se fossem rigorosas “verdades”. O Self como contexto promove um contacto no cliente com um sentido do self como contexto, como se fosse uma arena ou um lugar onde sucedem acontecimentos em vez de se focalizarem em auto-avaliações desesperantes produzidas pela mente. O contacto com o momento presente refere-se ao contacto continuado, sem julgamento, que o cliente tem com os acontecimentos psicológicos e ambientais que ocorrem, de maneira a ajudar a pessoa a evoluir no mundo de maneira mais directa e flexivel.
A ACT utiliza uma grande variedade de exercícios que ajudam a pessoa a identificar os seus valores e a fazer escolhas de vida em diferentes áreas (família, carreira profissional, espiritualidade), enquanto que subvertem os processos verbais que podem levar a pessoa a fazer escolhas em função do evitamento ou da conformidade social.
Para finalizar, a ACT encoraja a acção comprometida à medida que ajuda o cliente a desenvolver objectivos concretos que são consistentes com os valores pessoais e ajudando a pessoa a trabalhar para atingir esses mesmos objectivos.
O terapeuta utiliza os seis componentes quando perguntamos a nós próprios e ao cliente: “Dada a distinção entre você e o material contra o qual luta actualmente e que está a tentar mudar (“Self como contexto”), será que quer ter esse material, totalmente, e sem defesas (“Aceitação”), como ele é, e não como diz que é (“Desfusão”), e fará o que o tem que fazer para ir na direcção (“Acção comprometida”) dos seus valores escolhidos (“Valores”), neste lugar e neste momento (“Contacto com o presente”)?
Se a resposta a esta pergunta for “Sim”, então estamos a construir a flexibilidade psicologica.
Diferença entre ACT e a CBT tradicional
A ACT é uma das terapias cognitivas e comportamentais chamadas de “terceira geração”, que inclui a Terapia Comportamental Dialética (DBT; Linehan), a Terapia Cognitiva Baseada na Plena Consciência (MBCT; Segal, Williams & Teasdale) e a Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Jacobson, et al.).
A diferença essencial entre estas abordagens e a TCC (Beck e Ellis) é que em vez de tentar mudar de maneira directa os pensamentos, as emoções, os sentimentos, as memórias, estas terapias tentam mudar a função desses acontecimentos e a relação que o individuo tem com eles (Teadale). Por exemplo o terapeuta ACT não vai tentar identificar ou mudar pensamentos “irracionais”. Ele antes vai utilisar o processo da desfusão cognitiva para ajudar o cliente a distanciar-se da luta contra a linguagem, para constatar que não somente é impossivel de ganhar a luta contra a linguagem, mas que também é desnecessário de o fazer para poder viver uma vida vital, uma vida com valor.
Contráriamente a muitas terapias cognitivas e comportamentais tradicionais, a ACT é uma terapia dominantemente experiencial. Ela utiliza metaforas, histórias e exercícios para se distanciar da lingagem literal. Neste sentido, a ACT tem similaridades com a Terapia Gestalt, nomeadamente com o seu enfase nos exercícios experineciais durante a sessão.
Certas pessoas afirmam que a ACT é essencialmente Budismo vestido de roupa científica. Certamente que a ACT foi buscar a muitas tradições, incluindo o budismo. No entanto a ACT é um esforço científico e não uma fé, e a ACT é, e tem que ser, baseada numa teoria científica coesiva sujeita a todos os rigores da investigação empírica. Mesmo se a ACT partilha certos aspectos com algumas formas de Budismo, como é o caso da aceitação e da plena consciencia, também tem componentes unicos que não encontramos no ensino Budista, que tenhamos conhecimento. No total a ACT deve muito mais teóricamente às teorias e às intervenções de B.F. Skinner que ao Buddha.
O evitamento da experiência é a raíz da psicopatologia
Muitas formas da psicopatologia podem ser conceptualisadas como esforços perniciosos para escapar, evitar, controlar ou suprimir emoções, pensamentos ou memórias e outras experiencias intímas. As pessoas vão adoptar uma gama de comportamentos de maneira a evitar ter contactos psicológicos com acontecimentos privados avaliados negativamente. Infelizmente os esforços para suprimir ou eliminar pensamentos negativos ou emoções muitas vezes resultam num aumento da frequencia e da intensidade das mesmas, e na adopção de comportamentos que regulam o poder dessas experiencias.